terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A Troca e Como Nosso Mundinho Nao Mudou Nada em 80 Anos

Hoje fui assistir A Troca, novo filme novamente brilhantemente bem dirigido pelo Clint Eastwood com atuacoes fenomenais de Angelina Jolie e John Malcovich.


A historia acompanhara a jornada real de Christine Collins, que ja por si so, antes de qualquer tragedia ja era uma mulher alem do seu tempo. Em 1928, era mae solteira e supervisora de uma divisao da telefonia de Los Angeles.

Num sabado em que seu filhinho Walter Collins de 9 anos nao tinha aula, sua mae eh chamada para cobrir a falta de funcionarios (hum, historinha bem conhecida por nos…. funcionarios que nao tem qualquer responsabilidade com seu emprego…. mae solteira que come o pao que o diabo amassou para sustentar seus filhos…. falta de ambiente ou familiares para cuidar de criancas pequenas enquanto as maes trabalham…. eh… Los Angeles nao parece assim tao diferente de nos….). Por nao ter absoluta escolha e devido ao seu senso de responsabilidade no emprego, Christine resolve assumir o turno que encerraria as 16h00. Acaba soh chegando no inicio da noite em casa.

Quando chega em casa, se dah conta de que seu filho, que foi por ela criado com grande senso de responsabilidade, nao estava em casa.

Ai, que novamente vemos Brasil (ou instituicoes meio falidas em qualquer lugar do mundo). Desesperada, no meio da madrugada, apos buscas frustras em toda vizinhanca, Christine liga para a Policia. Eles informam que nada irao fazer antes das 24 horas apos o desaparecimento. E entao a grande pergunta… o que se pensa que um garotinho de 9 anos foi fazer na rua essa hora da madrugada, em 1928? Foi na Lan House?? Enfim, no dia seguinte, a Policia vai enfim na casa de Christine e anota a descricao da crianca.

Paralelamente a essa dramatica historia, surge o Reverendo Gustav Briegleb. Indignado com as historias de violencia, injustica, corrupcao e manipulacao politica da policia de Los Angeles (hum, nao parece tambem conhecida essa historia tambem??) resolve denunciar as historias nao declaradas nos meios de comunicacao consagrados (como a Times, que eh citada) atraves de seu programa de radio. O Reverendo resolve citar o caso de Christine como uma demonstracao da falta do absoluto desinteresse do exercicio profissional da classe policial, bem como tambem para ressaltar as barbaridades que se assistia dentro do aparelho policial daquele municipio.

Entao (tambem bem conhecidos por nos), vemos a conversa do entre o Chefe de Policia James E. Davis e o Capitao J. J. Jones na cobranca de solucoes para esse mal estar na imagem da policia, que por sua vez era cobrado do prefeito da cidade que se encontrava em ano eleitoral (hum, primeiro mundo tambem tem disso, olha soh).

Como uma solucao magica, um belo dia, um garotinho eh reconhecido como preenchendo criterios para ser o filho de Christine. O capitao Jones o leva para ser recebido pela sua mae, sob cobertura de holofortes da imprensa, pedindo que fosse reconhecido o “bom trabalho da policia”. A pessima surpresa de Christine foi receber em seus bracos um garotinho que nos olhos de mae, nao era seu filho. O pequeno insistia, dando dados de nome da mae, endereco. Nada acalmava o coracao de Christine. O capitao Jones, contornando o mal estar publico do equivoco, pede a Christine que reconsidere a distancia da crianca, o mal passar por ele sofrido, e suas mudancas. A mesma, no mesmo dia reconhece dados fidedignos de que a crianca nao era a mesma.

E ai comeca sua saga de pedir providencias para a policia e ser recebida como um “estorvo” para os “homens da lei”. Quando a mesma insistentemente pede para ser revista a busca do seu filho, um certo psiquiatra dr. Earl W. Tarr, que trabalhava para a policia eh chamado para avaliar a crianca, mas mais do que isso “restaurar o sentimento de maternidade da mae assim tao fria emocionalmente com seu filho”. O “psiquiatra” (e digo isso porque um colega que se dah a um papel desses nao pode ser considerado como um colega de profissao), reafirma em seu relatorio que aquela crianca era a verdadeira e a mae que se equivocara. No dia seguinte, o Times publica a “visao da realidade como a interessa” (logico, sem sequer dar a possibilidade de defesa para a mae “mentalmente perturbada”).

O Reverendo conta a mae sobre as irregularidades que existem na Policia e a alerta sobre os riscos de ir contra esse sistema. A mae faz relatorios medicos e escolares com dados fidedignos de que nao se tratava do seu filho. Nesse momento, o capitao de policia, utilizando-se do artificio do “codigo 12”, ordena internacao psiquiatrica de Christine (sem sequer ter mandato judicial ou avaliacao de medico oficial). Christine se depara com os horrores das clinicas psiquiatricas (que tanto mancham a historia da Psiquiatria ate hoje) e entra em contato com um sem numero de mulheres que tambem foram condenadas da mesma forma por “incomodar a autoridade policial”.

Ao mesmo tempo, um jovenzinho canadense de 15 anos chamado Sanford Clark eh detido num vilarejo com acusacao de invasao de territorio americano. Um investigador eh chamado para averiguar o caso. Depara-se com um garoto assustado com uma reacao violenta ao ser detido. Conhecemos a mente do garoto atraves da suas reminiscencias. Imagens de um homem esquartejando com um machado e choros de crianca, o levam a ficar angustiado. O mesmo vem a contar que teria participado de esquartejamentos de 20 criancas a mando e ameaca do seu tio, Gordon Northcott, de ser tambem morto. O filho de Christine teria sido reconhecido.

O desenrolar dessa historia merece ser vista, por isso nao continuarei descrevendo, mas o que me interessou discutir nesse momento, foram questoes tao atuais, apesar de uma historia antiga que remete 1928 (um ano antes do grande crash da bolsa de NY).

Recentemente bloguei a respeito da manipulacao do Grupo O Globo no Premio Extra. Danilo Gentil, reporter do CQC e a reportagem do Panico na TV, descreveram sob todos os prismas possiveis, a premiacao ja previamente ganha por programas da Globo antes de sequer apurados os votos e as parciais da premiacao cerca de 3 horas antes do premio, dando resultados absolutamentes adversos aos que foram vistos.

http://www.youtube.com/watch?v=ypqt3CIGYdc

Lembro tambem do episodio em o mesmo Danilo Gentili teria sido expulso, junto a qualquer outro integrante da equipe de jornalismo do CQC de realizar entrevistas dentro do Congresso Nacional. Depois de um abaixo assinado indiscutivel e da comocao popular, apos cerca de 4 meses, o CQC pode voltar a realizar sua atividade investigativa e honesta da realidade politica nacional.

Junto a tudo isso, posto tambem esse video do nosso reporter Ernesto Varella e seu reporter Valdeci, precursor do jornalismo de humor, protagonizado por nossos queridos Marcelo Tas e Reinaldo Meirelles, que numa oportunidade feliz, puderam fazer essa entrevista com nosso “dignissimo” deputado Paulo Maluf, explicando como se constroi um politico. Uma aula de demagogia e manipulacao para ninguem botar defeito.

No momento em que a revista Veja publica os artigos entre 1968 a 1976 proibidos pela censura militar, coloco novamente em questao a manipulacao politica, inclusive em termos de criacoes de criacao de imagens publicas convenientes ao poder estabelecido. Em 80 anos de evolucao da Humanidade, nos encontramos no exato mesmo lugar.

http://veja.abril.com.br/101208/p_170.shtml

Tambem me chama a atencao a brutalidade de crimes cometidos contra menores. Num momento em que 2008 ouvimos inumeras historias de brutalidade contra menores, como no caso da morte de Isabela Nardoni, os irmaos esquartejados de Ribeirao Pires, o caso Eloa ou o caso Silvia Calabresi (empresaria que torturava uma menor por ela adotada em Goias). A historia do esquartejamento de menores nesse filme, brutal era em 1928 e apesar dos anos passados os mesmos crimes com igual requinte de crueldade.

Levanto a questao da evolucao da Humanidade, em termos tecnologicos e a manutencao da mesma cultura politica e social que vimos ha 80 anos atras.

De que adianta inumeras ferramentas de comunicacao, a crescente importancia da informacao, se a Humanidade se mantem com uma mentalidade tribal, grotesca e predatoria como a que observamos no filme ou como percebemos nosso mundo, se pararmos um segundo para pensar?

Nenhum comentário: